O que é o EIV?

O Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV) é uma ferramenta construída conjuntamente pelo movimento estudantil e movimentos sociais populares, em que estudantes de diversas localidades do Brasil e até de outros países da América Latina se propõem a um exercício de formação e vivência nas comunidades de movimentos sociais do campo.

O EIV surge num contexto em que o processo de desenvolvimento agropecuário mecanicista e capitalista, voltado aos interesses de uma burguesia agrária e de grandes multinacionais, necessita que a aquisição, a construção do conhecimento e a formação dos futuros profissionais nas Universidades (brasileiras e de outros países da América Latina), se resumam à transposição de técnicas e teorias referenciadas em produções científicas de bases teóricas produtivistas e positivistas. Assim, os estudantes tornam-se objetos de um processo educacional cujo objetivo é reproduzir os conceitos e práticas adquiridos em suas universidades, limitando-se às visões simplistas de compreensão da realidade, e pouco podendo agir para modificá-la.

Desta forma, o EIV , através de espaços de formação política e da vivência nas comunidades, é um mecanismo pedagógico importante para auxiliar a formação do estudante e sua tomada de consciência sobre a diversidade e a complexidade das condições sociais de vida e trabalho vigentes na sociedade, sendo esta tarefa impossível de se realizar dentro dos muros da universidade de hoje. Além disto, o estágio busca estreitar os laços entre os estudantes e os movimentos sociais populares, com o anseio de se construir um movimento estudantil com identidade de classe, buscando reinventar suas atuais praticas, que vêm se mostrando estéreis na lutas dentro e fora da universidade.

Princípios

Esta experiência se pauta por três princípios fundamentais: a parceria, que se dá na relação do Movimento Estudantil e os Movimentos Sociais de Luta pela Terra, especialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; a interdisciplinaridade, que propicia o diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento, abrindo espaço para outros pontos de vista sobre determinados temas e problemáticas, além de exercitar a discussão e a reflexão coletiva; e a não intervenção, pois garante ao estudante dedicar-se apenas ao conhecimento da realidade dos agricultores para compreendê-la e, ao mesmo tempo, oferecer elementos para problematizar sua formação profissional e dimensionar ações futuras de interação e contribuição profissional. 
Metodologia

A metodologia utilizada no estágio é baseada no que chama-se de tempos educativos, que compõe uma série de diferentes espaços essenciais para que se atinjam os objetivos propostos. Entre eles, temos o tempo trabalho, intervalos resguardados para realizar as tarefas necessárias para o bom funcionamento do espaço e garantia de continuidade da grade do Estágio; o tempo estudo; oficinas; espaços de leitura; painéis expositivos ; tempos de cochilo; a vivência em si , entre outros.

Etapas


1. Preparação: Nessa primeira fase (5 a 8 dias) os estagiários ficam no mesmo local e participam de espaços de formação política através de oficinas, seminários e grupos de discussão sobre economia política, questão agrária no Brasil, histórico e o papel atual dos movimentos sociais, etc.

2. Vivência: Após a preparação, os estagiários se separam e vão para a convivência com as famílias organizadas nos movimentos camponeses (MST), realizando junto a estas as atividades do dia-dia e conhecendo a realidade das pessoas e da organização dos movimentos sociais (cerca de 10 dias).

3. Avaliação: Os estagiários voltam a se encontrar para compartilhar as experiências das vivências e avaliar o estágio como um todo (4 a 6 dias). Também são realizados nesta etapa mais espaços de formação e apontamentos da continuidade do trabalho iniciado no EIV.

Ousemos vivenciar a realidade do povo , pisar onde pisam, perceber ao menos um pouco a opressão a que o povo é submetido, não somente a constatar através de aulas e livros. Só isto não basta, não modifica. Buscando explorar um pouco mais da subjetividade do ser humano, fortalecendo a organização e a coletividade, avançaremos sobre a arrogância e o descomprometimento que pairam sobre nosso cotidiano universitário.