sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Apresentação do EIV

O presente projeto surgiu da análise das experiências implementadas pela Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB, sendo a primeira no final de 1988 e janeiro de 1989, em Dourados (MS), em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), agregando, naquele momento, estudantes de agronomia da Superintendência Regional IV da Federação (região Centro-Oeste). Após avaliações e debates, concretizou-se finalmente, em janeiro de 1992, o primeiro projeto em âmbito nacional, realizado em assentamentos rurais dos Estados de Santa Catarina e Paraná, sob coordenação do Núcleo de Trabalho Permanente sobre Movimentos Sociais (NTP/MS) da FEAB. A partir dessa experiência, evidenciou-se a necessidade de que o estágio assumisse um caráter interdisciplinar.
Desde estão, os Estágios de Vivência se multiplicaram por todo o país. Assumiram caráter local ou regional, e em sua maioria, interdisciplinar. Sua construção passa a extrapolar a FEAB atingindo outras Executivas e Federações de Curso, Diretórios Centrais dos Estudantes e Centros e Diretórios Acadêmicos. Teve sua importância reconhecida em várias universidades, chegando a ser institucionalizado em algumas, como é o caso da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde o Estágio de Vivência constitui uma disciplina dentro do currículo de Agronomia.
Muitos grupos de Extensão se formaram a partir da experiência dos Estágios de Vivência, desenvolvendo trabalhos de longo prazo em conjunto com os Assentamentos e Comunidades Rurais. Cabe ainda lembrar, finalmente, que a proposta do Estágio de Vivência da FEAB foi premiada pela UNESCO em 1992, como iniciativa de destaque da juventude Latino-americana.
No ano de 2003, a Executiva Nacional de Veterinária (ENEV) em conjunto com a FEAB, encaminharam ao INCRA um Plano Nacional de Formação (PNF), cujo objetivo é de fortalecer a base do Movimento Estudantil e formar uma geração de intelectuais e profissionais comprometidos com a defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, com a luta pela reforma agrária e conseqüentemente com a transformação da estrutura fundiária e social brasileira. Para isso, O PNF visa promover seminários de formação política, seminários sobre reforma agrária e os EIV’s.
A partir do ano de 1996, inicia-se a organização dos estágios no Estado de Minas Gerais, quando a FEAB através de sua superintendência regional III, juntamente com grupos estudantis da UFLA, UFRRJ, UFV e UFES, organizam o 1º Estágio de Vivência em parceria com Pequenos Produtores e com o MST do Estado do Espírito Santo, neste momento, ainda restritos a estudantes de Agronomia. Como proposta final deste estágio, decidiu-se que cada Universidade deveria realizar seu estágio específico e interdisciplinar.
Em meados de 2003, também em Minas Gerais, inicia então as discussões sobre a realização de um Estágio de Vivência Estadual, que unificasse as experiências das Universidades de Viçosa e Lavras e que fosse capaz de envolver mais universidades nesse processo, apropriando uma metodologia pedagógica dos Movimentos de Luta pela Terra e ousando em dois outros aspectos: a massividade e o internacionalismo. Pelo sucesso dessa iniciativa, no ano de 2005, a experiência teve continuidade com a inserção de outras entidades estudantis no processo de construção. Novas parcerias foram estabelecidas. O estágio contou com a participação de 127 estudantes, entre estagiários e coordenadores, tendo 27 universidades representadas, tanto a nível estadual, como a nível nacional e contando com a participação de estudantes de 36 cursos diferentes. Além disso, 22 estudantes estrangeiros oriundos de 8 países (Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, México, Peru, Uruguai e Venezuela).
Dessa forma, podemos dizer que em muitas Universidades o movimento estudantil contribuiu significativamente para a inserção do debate da questão agrária brasileira se comprometendo com a reforma agrária, com a luta pela mudança das estruturas universitárias e se engajando na luta por uma sociedade justa e realmente democrática.
A nossa proposta é construir um espaço de capacitação que possua um caráter de mútuo intercâmbio político e profissional entre a Universidade, órgãos públicos, as famílias assentadas e os Movimentos Sociais de Luta pela Terra que contribua para o avanço na construção de um novo modelo de sociedade. Trata-se de um importante instrumento pedagógico auxiliar da formação profissional e propulsor da tomada de consciência do estudante sobre a diversidade e a complexidade das condições sociais de vida e trabalho vigentes na sociedade, sobretudo, as do meio rural, além do fato de representar para as famílias assentadas e acampadas um espaço de interação, de formação, de elevação significativa da auto-estima, de reflexão, sobretudo do perfil do futuro profissional que irá desenvolver atividades futuras naquela área. 

     O EIV propicia ao estudante universitário o contato com a realidade social dos atores contemporâneos excluídos do processo de produção, no intuito de romper com a divisão entre teoria e prática consagrada nos bancos universitários.
           Esta experiência se pauta por três princípios fundamentais: a parceria, que se dá na relação do Movimento Estudantil e os Movimentos Sociais de Luta pela Terra, especialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA); a interdisciplinaridade, que propicia o diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento, abrindo espaço para outros pontos de vista sobre determinados temas e problemáticas, além de exercitar a discussão e a reflexão coletiva; e a não intervenção, pois garante ao estudante dedicar-se apenas ao conhecimento da realidade dos agricultores para compreendê-la e, ao mesmo tempo, oferecer elementos para problematizar sua formação profissional e dimensionar ações futuras de interação e contribuição profissional.

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